O que o vento me trouxe

 Ouvi-te a chamar por mim. Sabia que não podias ser real. Segui caminho, querendo acreditar que tinha sido apenas a minha imaginação a aventurar-se. Mas chamaste-me de novo. Olhei ao meu redor e não te vi. Fiquei desnecessariamente esperançosa e comecei a pensar na primeira coisa que te deveria dizer quando te voltasse a ver.
 Estava a anoitecer e eu ia para casa. Uma rajada de vento fez-me dar um passo atrás e foi nesse instante que te vi. Estavas a sorrir. Corri para ti, mas desapareceste. Procurei-te em todas as esquinas mais próximas, mas não te encontrei. Uma senhora passou por mim e disse "Boa tarde". Não respondi, por não conseguir distinguir a realidade da imaginação e por não perceber porque fugiste de mim.
 Entrei em casa e dei-me ao luxo de poder desabar. Chorei pelo vazio que deixaste na minha vida, pela falta que me fazes e pelas saudades que me dás. - Abraçaste-me. Era o teu perfume. - Chorei pelos momentos que passei contigo e por aqueles que não vais estar presente. - "Não gosto de te ver assim". Era a tua voz. - Chorei por tudo o que foi dito e mais ainda por aquilo que não te disse. - "Porque te foste embora?" - Chorei por me teres deixado tão vulnerável aos perigos da vida. - "Estou sempre a olhar por ti". Era o teu toque. - Chorei por não conseguir suportar outra perda. - "Volta. Fica." - Chorei por teres levado contigo os meus sonhos e ambições. - "Estás a ir muito bem" - Chorei por pensar que me podias ajudar. - "Não vás embora" - Chorei por chorar por ti. - "Estou aqui agora".
 E então nós paramos de conversar, desapareceste de novo. Mas os meus olhos continuaram a revelar tudo o que o meu coração sentia, ocultando apenas a vontade de me querer juntar a ti. 


Tua S, 

Comentários

  1. Atormenta-me, mais do que nunca, ver estas tuas palavras, ver o teu sofrimento (apenas ver, porque sentir, sinto mesmo que não o demonstres. Conheço-te bastante bem, em parte porque me conheço bem e porque já tive provas de que és incrivelmente parecida comigo em muita coisa. Atormenta-me, porque apesar de ser "só" um tio que via de tempos a tempos e não um pai com quem vivia diariamente, estou emocionalmente neste estado indescritível, pois por isso, é fácil saber o que poderás estar a sentir. Não agora, mas há muito. Há muito que tenho uma enorme vontade de te abraçar, de dizer que enquanto estiveres nos meus braços não deixarei que nada de mal te aconteça. Agora, mais do que nunca, apetecia-me fazê-lo. Quer por ti quer, também, por mim, pois mais do que ninguém neste momento sabes o que estou a passar e, mais uma vez, tens sido uma pessoa absoluta e completamente excepcional, fabulosa, quase indescritível. Mais uma vez, dou graças a Deus (e à internet ehehe) por te ter conhecido, por teres "caído" na minha vida, como um anjo caído do Céu. Adorei, mais uma vez, aquilo que escreveste, a profundidade do sentimento das tuas palavras, a forma tão assustadora e tristemente bela como te exprimes. Fico deliciado com todos os textos que escreves!
    Beijinho nina :) obrigado por seres como és e por seres quem és!

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