Ouvi-te chegar

 Voltei a ouvir-te chegar. Entraste em casa, fechaste a porta, pousaste as chaves, abriste o casaco... Sabia que a seguir vinhas ter comigo, perguntavas o que eu estava a fazer e davas-me um beijo na testa. Lembro-me do som do teu movimento. Lembro-me da tua presença. Mas aterroriza-me não me lembrar da tua voz. Talvez não me lembre por pensar demasiado sobre isso, ou por querer tanto recordá-la, ou por desejar tanto que voltes, ou por me repreender tanto por pensar assim...
 Sei que te disse que estava a conseguir ultrapassar cada dia. E estou. Mas é difícil. E a dor voltou, de um dia para o outro. Não mais forte, mas insistente e dolorosa. Aperta-me o peito e obriga-me a dizer as palavras proibidas. Sabes tão bem quanto eu que não as posso dizer. E desta vez não é pelos dois, mas somente por ti. Pelo teu bem, seja ele qual for, sou capaz de o fazer, mesmo que me destrua por dentro, mesmo que tenha de fingir o que sinto.
 Voltei a ouvir-te chegar. E estás a demorar tanto tempo para chegar perto de mim.


Tua S, 

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Um dia

Só assim

Sem ti é assim