Vai-te para longe

 Fazes-me tremer. Tremo por te querer largar. Tremo porque não encontro o fim. Tremo porque me assustas. Tremo porque quero voar e nunca mais voltar. Se voasse, não precisava de ti. E era eu. E sorria. E sonhava. E cantava. E dançava. E abraçava. E brincava. E era feliz. E era eu.
 Não preciso escrever-te uma carta para saberes como sou. Sabes onde me tocar. Sabes como me prender. E sabes que não te resisto. Chegas suavemente, abraças-me carinhosamente e permaneces horrorosamente. Durante o dia enfrento-te. Durante a noite alio-me a ti. 
 Quero voar. Vai-te embora. Olha para mim. Olha-me nos olhos. O que vês? Percorre-me a alma e diz-me se gostas do que vês. Estás contente com o que fizeste? Muito bem, agora adormece-me para não te ver partir. Não gosto de ti, nem de despedidas. Por isso adormece-me primeiro. 
 As flores vão nascer e preciso estar preparada para as colher. É preciso saber colhê-las. É preciso magia. É preciso tempo. E vento. E o vento está a chegar. Por isso adormece-me e vai-te embora. 
 A tua inimiga mandou-me dizer-te que vai voltar e que quando chegar não se quer cruzar contigo. Sabes bem como ela é. Tu podes ter força, mas ela tem a própria força do lado dela. Por isso adormece-me e foge para longe. 
 Sei que te chamei. Mas não te pedi para permaneceres. Não gosto de ti, mas também não te odeio. Se precisar voltarei a chamar-te mas agora chegou a hora. Chegou a hora de colher e voar. Por isso adormece-me, dá-me um beijo e vai-te embora. 


Tua S, 

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