Ausência ardente

 É tão difícil deixar-te suave. Não consigo falar sobre ti sem que a minha voz tropece (o que não acontece quando escrevo para ti). Não consigo sentir-te sem saudade. Não consigo pensar-te sem passado, porque é impossível. Tal como não sentir um misto de angustia e raiva quando o assunto és tu. Mas sabias que é possível não te fixar? E é bom viver quando o centro não és tu. Porque quando o és, tu e os problemas que com a tua partida chegaram, viver torna-se insuportável.
 Falaram-me do Natal. Instantaneamente se instalou um aperto na garganta e uma enorme vontade de chorar. Perguntaram-me se ia ficar em casa, respondi que sim e as lágrimas surgiram. Não as consegui reter e desabei como há muito tempo não fazia. Surpreendi-me, sabes porquê? Já não me lembrava o quão doloroso é chorar por ti. Não me lembrava daquele segundo em que o mundo parece cair-me aos pés, daquele em que desejo que nada disto tenha acontecido, daquele em que imagino como seria se cá estivesses e daquele em que tenho consciência que não posso fazer nada para remediar esta situação. Porque estas situações não se remedeiam. Porque não há um pó mágico para recuar no tempo. Nem para te dar vida.
 Gostava de te contar mais, mas agora não posso. Hoje é dia do habitual abastecimento de lenha. E, igual a todos os anos, o tempo está chuvoso, por isso há que apressar a arrumação.


Tua S, 

Comentários

  1. Tudo parece tão real, como para ti o é. Tudo parece tão dolorosamente familiar. E é nestas alturas que sentimos o quão impotentes somos perante a Natureza, perante Deus... Pouco há a comentar em relação a este texto, pois muito foi dito nele, mas é assustadoramente real e doloroso para quem acompanhou de perto toda a situação. Os arrepios fazem-se sentir, o desconforto teima em aparecer e, pois mil e um pensamentos invadem a cabeca...

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