Faz, aceita, ama

 Normalmente só escrevo aqui quando sou invadida por grandes e muitas emoções e preciso de deitar tudo cá para fora. Por isso devo estar a causar alguma confusão às pessoas que me conhecem e seguem, porque o costume é escrever um texto e ficar tudo dito, mas esta semana já lá vão três publicações e parece-me que não disse nada.
 Estava a estudar matemática quando comecei a pensar e me deu outra vontade súbita de pôr os meus pensamentos em "papel". E já que referi a matemática, é por aí que vou começar. Adorava tanto, mas tanto que o exame que vou fazer daqui a 5 dias fosse fácil. E mesmo que não o fosse, gostava que, depois destes dias a estudar e a ter explicações, sem contar com o ano que passou, ao menos eu chegasse lá e conseguisse fazer os exercícios. Gostava de dizer que precisei de raciocinar, mas que consegui, que valeu a pena o esforço. E depois, passado menos de um mês, em frente às pautas, gostava de olhar para a minha nota e pensar "fogo, tu és mesmo capaz", porque se fico triste com a desilusão que dou a quem me ajuda, ainda fico pior com a desilusão que dou a mim própria por querer ser sempre melhor que os outros. 
 Depois do meu pai ter morrido, quase que fui obrigada a desistir de querer ir para a universidade, porque as despesas eram muitas para um só ordenado e porque não são só as despesas normais, são também muitas outras que nem vale a pena estar aqui a referir. Isto para dizer que durante este ano houve dias em que me esforcei para pelo menos acabar o secundário com boas notas e ficar orgulhosa de mim e outros dias em que simplesmente não quis saber do estudo porque o cansaço não iria compensar absolutamente nada. Mas há uns dias atrás, apesar de as más notícias serem o prato do dia cá em casa, digamos que saboreei uma bela sobremesa. Uma ordem, ou permissão, ou pedido, ou aquilo que for, para eu me candidatar à universidade porque tudo se irá resolver. 
 E já que não posso falar de uma coisa sem falar de outra, depois de receber a boa nova, escrevi o texto "Orgulha-te", dirigido ao meu pai. Apesar do sofrimento, da saudade e de querer recordar só as coisas boas, também tenho momentos em que estou profundamente chateada com ele pela situação tremendamente desagradável em que nos deixou, consequência de más decisões tomadas no passado. E não fico só chateada por isso, fico também revoltada por não conseguir aceitar que ele nos deixou assim. Sim, é verdade que está mais fácil, mas ainda não consigo ouvir os verbos conjugados no passado quando falamos dele. Isso faz parecer que nunca existiu, que foi apagado do mundo, sendo que a única coisa que o mantém vivo é a saudade que me atinge quando penso nesse passado com ele e no presente e num futuro sem ele. Mais forte ainda é a dor de perceber que o ser humano é capaz de superar uma morte. 
 Eu e o meu pai éramos como unha e carne. Não sei o que ele está a sentir, se é que se sente alguma coisa depois da morte, mas consigo imaginar. Custa-me ver que as outras pessoas são capazes de refazer a vida sem ele, mas custa-me muito mais, e dói, perceber que eu própria consigo viver sem ele. Choro por ele, escrevo para ele, penso nele, faço coisas para ele, mas ele já não está cá e eu tenho uma vida na mesma, e sorrio, e canto, e danço, e sou feliz. E se por um lado eu quero parar o tempo para sentir o duro sofrimento por tê-lo perdido, por outro quero pular uns quantos anos para que seja mais fácil. O assunto da morte e da perda é super complexo e para mim, que tenho sempre várias perspetivas, ainda se torna mais complicado. 
 Complicado é também falar de amor. Não só falar, como sentir. Quando se sente amor, sente-se muitas outras sensações, tanto boas como más. Como devem ter percebido pela primeira publicação da semana, estou com uma pessoa. As coisas foram evoluindo, a vontade foi crescendo e estamos juntos, melhor que nunca. E agora que o secundário acabou, é altura de seguirmos caminhos diferentes em relação à universidade. E isso faz-me pensar e imaginar mil e um cenários para as coisas entre nós não correrem bem. Sei o que ele quer e sei o que eu quero. Mas a verdade é que, independentemente da força do nosso sentimento, dando-me a vida tantas provas de que não posso simplesmente esquecer o que me rodeia, tenho medo. Medo por ele e por mim. Medo por nós. E ao sentir este medo, sinto-me mais necessitada da proteção e atenção dele, mas também tranquila pelas certezas que ele me dá e ao mesmo tempo envergonhada pelas minhas paranóias desnecessárias. É assim que sinto o amor: intensamente, loucamente, excessivamente e incondicionalmente. E foi também dessa maneira que ele se apoderou de mim. 
 Chego finalmente ao fim com o alívio por, desta vez, ter dito tudo o que me andava a atormentar. Quero apenas deixar aqui três conselhos. Primeiro, façam as coisas por vocês, mesmo que ninguém repare, mesmo que não sirva para nada, pois vão se sentir bem com o vosso sucesso. Segundo, aceitem, e este talvez seja mais um conselho para mim do que para vocês, que a vida é passageira e nada dura para sempre, nem mesmo a maior felicidade ou tristeza. E terceiro, amem tudo e todos à vossa maneira. 


Tua S, 

Comentários

  1. Um texto diferente dos que tens escrito. Não na beleza e encanto com que expões as tuas ideias, mas no misticismo, que este texto não tem porque está muito directo, pouco misterioso (isto não é uma crítica nem um elogio, é apenas uma afirmação, um facto).
    Gostava de te poder dizer que o exame de matemática te ia correr bem, como disse várias vezes ao longo do ano lectivo, quer nos testes normais quer nos intermédios. É verdade que a mente é uma ferramenta poderosíssima e a tua não é, de todo, excepção. Conheço-a bem e sei do que falo. Mas o poder da mente não é tudo. É necessário trabalho, é necessário dedicação. E tu tens trabalhado imenso, eu sei. Tens-te dedicado com uma força enorme. Tens-te esforçado. Há coisas, no entanto, que não são a nossa vocação e que, por mais que tentemos, nunca conseguiremos ter.
    Se não conseguires, não te martirizes por seres menos ou mais capaz, mentaliza-te antes que pura e simplesmente a matemática não faz parte das tuas vocações, mas que tens outras, tantas que eu conheço e talvez outras que eu não conheço. O problema, é que disso depende a tua entrada na faculdade, que tanto desejas, no curso com que tanto sonhas. Quanto a isso... Nada se pode fazer. A não ser dar a volta por cima. Gostas de ter as coisas sob controlo e controlar tu as situações... Mas há coisas que pura e simplesmente não estão ao nosso alcance de controlar (e tu viste bem isto durante as últimas semanas, particularmente durante os últimos dias). Era bom, ou pelo menos mais fácil que assim fosse. Mas certamente acabaria por se tornar monótono. A vida está constantemente a desafiar-nos. Mas tu és uma aventureira, gostas de aventura e desafios. Lembro-me de uma vez teres dito isso, há muito tempo já.
    Se não conseguires, agarra-te ao facto de teres tentado e, acima de tudo, de teres dado o teu melhor. É bom o esforço ser reconhecido e esse reconhecimento reflecte-se na nota, mas se não for reconhecido pelos outros, que tu, então, pelo menos, reconheças. Não queiras ser melhor, nem pior do que os outros. Não te compares a ninguém. Quer ser tu mesma. As pessoas não são todas iguais, como as suas vidas não são todas iguais e nunca se sabe tudo o que está por trás das outras pessoas, por que são assim, por que reagem desta ou daquela maneira, por que conseguem isto ou aquilo e não conseguem acoloutro. Nunca julgues ninguém, mesmo que te julguem a ti. Tu, mais do que ninguém, sabe aquilo que vale. Cada um, mais do que ninguém, sabe o que cada um vale. Sonha, muito, alto, mas aceita a realidade, aceita o que tens. Essa aceitação é uma das chaves para não sofrer.
    Se é fantástico e encantador ver-te alegre, confiante, é triste saber-te por vezes perdida. E não é uma questão de apenas saber, é também de ver, de o perceber. Mas eu sempre te disse que a vida tem altos e baixos e que, depois da tempestade vem a bonança. Aqui tens a prova. Não que eu seja o dono da verdade, mas há coisas em que acredito profundamente.
    Por mais que queiramos, ninguém é perfeito, mesmo que aos nossos olhos por vezes assim não pareça. Todos temos os nossos segredos mais íntimos, os nossos mistérios mais profundos e, por mais que duas pessoas se conheçam, por muito bem que se conheçam, nunca, jamais se conhecem a 100%. Nem mesmo familiares. Por mais que te custe ouvir/ler/saber e, principalmente, aceitar isso, certamente o teu pai não era excepção. Por muito que conhecesses o teu pai, há sempre qualquer pormenorzinho, por muito ínfimo que seja, que te escapou, mas que pode ser precisamente esse pormenor que explique a sua atitude. Não queiras compreender. Limita-te a aceitar. Por muito que te custe. Mais uma vez, há coisas que não estão no nosso controlo.
    Mas se há coisa que não podemos controlar, uma delas, quiçá a mais certa, é a morte. Se ele não tivesse morrido pelo motivo que foi, que podia ter sido evitado, podia ter morrido, ou morrer daqui a uns anos, mais tarde ou mais cedo, por qualquer outro motivo que não estivesse ao alcance de ninguém. Há milhões de hipóteses pelas quais ele poderia não estar aqui.

    (CONTINUA)

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  2. (CONTINUAÇÃO)

    Por mais que nos custe, temos de encarar que há coisas que simplesmente não controlamos.
    Em relação ao parágrafo sobre o amor, não posso falar de tudo, porque não sei nada de nada da história, e não devo (ninguém deve) falar do que não se sabe.
    Como disse mais atrás, a mente é uma ferramenta poderosíssima e em relação a isto vou usar toda a objectividade que me for possível e que já te disse algumas vezes em relação a vários assuntos: NÃO penses que as coisas podem não correr bem. Esse é o primeiro passo para que não corram mesmo. Com muita força e muito pensamento positivo, as coisas boas acontecem. Com menos pensamento negativo, as coisas menos boas acontecem mais facilmente. Pensa antes que as coisas vão correr bem. Terão os vossos altos e baixos, como qualquer casal tem, mas, se o amor for realmente forte, os obstáculos serão ultrapassados. O amor e a união são essenciais. Não tenhas medo do futuro. Vive o presente, saboreia-o, pois é nele que vives e não no futuro. Um dia de cada vez. Rema ao sabor da maré. E não tenhas vergonha de nada. Orgulha-te de quem és, ao invés de te envergonhares disso. Tu és única, com todos os teus defeitos, com todas as tuas qualidades. Qualquer pessoa é única com todos os seus defeitos e qualidades. Aquele ou aquela que nos amar de verdade, não se envergonhará de ti, será superior a isso.
    O último pequeno parágrafo, tem de servir a ti, neste momento mais do que a ninguém. É fácil falar, é fácil dar conselhos, mas é tremendamente difícil, por vezes, aplicar esses conselhos. Faz um esforço. Por todos aqueles que te amam e te querem bem, mas essencialmente por ti.

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